Dia 02 - Pimenta nos olhos dos outros é refresco
Jantar dessa noite! |
Acordei super bem humorada
até perceber o bafo mortal que habitava minha boca. Dei um
baforadinha na mão para sentir o tamanho do problema. Rapaz! Deve
ter um rato morto no meu estômago, cruz credo. Sorte do Torsten que
saí da cama sem desejar bom dia.
Já haviam me alertando
que o mau hálito deveria aparecer com o jejum. E dizem que piora nos
dias seguintes. Sorte da maioria de vocês que só conversa comigo
por Skype ou email!
Depois de passado o susto
com meu próprio hálito comecei o dia com um suco de laranja. Para
minha surpresa a fome foi pouca durante a manhã, bem menor do que no
dia seguinte. Comi uma maçã no meio da manhã, mas hoje não
precisei antecipar o almoço.
Na hora do almoço batatas
cozidas e salada foram suficientes para matar minha fome. A ironia do
destino apareceu no meio da minha tarde. Para quem não sabe,
trabalho na Avaaz, uma organização internacional que organiza ações
urgentes online e offline para assuntos relacionados a direitos
humanos, meio ambientes, corrupção, etc. A cada semana temos uma
nova campanha e eis que no meio da minha tarde recebo uma mensagem no
Skype de uma colega me pedindo ajuda para achar uma imagem para uma
campanha que iríamos testar. “Carol, você pode procurar por uma
imagem de uma pessoa morrendo de fome por não conseguir pagar pela
sua comida?”
Eu ri para não chorar. E
lá fui eu a procura de fotos de pessoas famintas, sem ter o que
comer. Aí o lado ativista e humanitário pegou e me questionei um
pouco sobre o jejum “Caramba, tanta gente que daria tudo por um
prato de comida e eu aqui deixando de comer para ter uma
experiência.” Me senti um pouco boba no começo, mas depois um
outro pensamento me veio à cabeça. “Ao mesmo tempo isso está me
fazendo ter um pequenina ideia do que é ter fome de verdade”
Obviamente que não quero comparar um jejum todo equilibrado
praticado num lar confortável e com toda assistência com alguém
passando fome em algum país pobre do mundo.
Não, não é isso. Mas de
uma certa maneira, a experiência faz você parar para pensar em
comida, e consequentemente, nas pessoas que vivem sem ela
(principalmente se você tem que pesquisar por fotos de pessoas
famintas), em uma criança que nunca provou um chocolate, quem
consegue alimentar a família uma vez por dia, quem não tem acesso a
água. E aí você imagina como eles se sentem fisiologicamente. E
psicologicamente ao ver outras pessoas comendo (algo que experimentei
algumas vezes em Moçambique, onde aprendi a não sair na rua
apressada por não ter dado tempo de almoçar devorando um sanduíche
nas mesmas ruas que pessoas pediam por comida).
(interessnate reclame da Oxfam: "Quando crianças brincam com comida é fofo.
Quando Washington brinca com comida, custa a vida de muitos")
Enfim, achada a foto
continuei meu trabalho e comi uma banana a tarde. Certamente esta
manhã e tarde foram bem mais tranquilas em relação a fome do que
ontem. À noite é que ela bateu. Comi umas ervilhas cozidas,
cogumelos feitos na frigideira sem óleo, apenas com sal (aliás me
surpreendi como eles ficam tão deliciosos como com óleo – com
certeza não usarei mais óleo para fazer os cogumelos) e uma
alcachofra.
De novo, bebi muito
líquido e fui dormir traquila. Amanhã será o primeiro dia sem
nenhum alimento apenas com líquidos (suco, água e caldo de
legumes). Ah e também o dia da limpeza intestinal (ai!). Desejem-me
sorte!
Tou adorando vossa jejuada facebookada (quêde os post da Sté?)
ReplyDeleteEm solidariedade com vocês hoje, no almoço, quando for comer nhóqui de abóbora, o farei lembrando de vocês, hehehehe...