Wednesday, October 10, 2012


"Juntando a fome com a vontade de comer"

Acho que a primeira vez que ouvi a palavra jejum foi para fazer um exame de sangue. Era pequenina ainda, mas não gostei muito daquele tal de “Jejum” que não me deixou tomar meu café da manhã depois de acordar.

Depois de alguns anos o “Jejum” apareceu de novo, desta vez ligado a um homem muito magrinho na Índia. Meus pais me explicaram que ele se chamava Gandhi e que tinha parado de comer para protestar contra a violência no seu país e em solidariedade aos milhares que passavam fome.

Anos atrás me lembro de uma amiga judia que estudava inglês comigo e que não foi almoçar pois estava de jejum devido ao Yom Kippur, o Dia do Perdão para os judeus. “Pobrezinha”, pensei com meus botões.

Mas de todas essas experiência a que mais me chocou foi há cerca de dois anos quando reencontrei com meu namorado, depois de passarmos um mês separados. Ao vê-lo no aeroporto levei um choque com a magreza no seu rosto. Mais chocada ainda fiquei quando ele me explicou que havia jejuado por duas semanas.

“Gente, mas por quê?!” Ele é ateu, pelo que eu saiba não estava protestando por nada (talvez pela minha ausência hehehe), está bem longe de ser obeso, é uma pessoa cheia de saúde, tem condições de comprar seus alimentos. Simplesmente parar de comer? “É uma experiência extremamente enriquecedora ver o que seu corpo é capaz de fazer sem comida, o quanto não prestamos atenção no ato de comer e quão libertador isso pode ser”, me explicou o magrelo.

Não engoli a explicação (minha comida continuei engolindo!) e durante mais de um ano achei aquilo completamente maluco. Nos períodos em que ele jejuava (uma vez por ano) ficava super envergonhada quando ele explicava para nossos amigos que não ia comer, pois estava jejuando.

Já se passaram 2 anos e meio desde que tive esse choque e há duas semanas, entretanto, resolvi acompanhá-lo no jejum. Algumas coisas me levaram a tomar essa decisão:
  • nesses últimos dois anos eu aprendi a cozinhar.
E foi só nesse momento que passei a ter muito mais consciência das coisas que comia. Passei a me interessar em saber de onde vêm os produtos que ingerimos, tentei evitar tanto quanto possível produtos industrializados e percebi o como é fácil não prestar atenção no que se como e como se come.
  • meus programas sociais geralmente envolvem comida.
Muito mais do que eu sequer imaginava. Fui realmente perceber nossa extrema dependência em relação a comida como atividade social quando tentei estabelecer uma data para o início do jejum: num dia não podia por que já tinha marcada um brunch com uma amiga, no dia seguinte ia oferecer um almoço em casa, na semana seguinte teríamos visitas na cidade e com certeza sairíamos para jantar em algum restaurante bacana de Berlin. Não acho ruim a comida ser um programa social, mas diria que ela faz parte de mais de 50% dos meu programa social, e fiquei extremamente curiosa de saber o que faria para substituir esses programas.
  • comida exige bastante do seu tempo
Pare para pensar quanto do seu dia você dedica à comida. Café da manhã, almoço, jantar, pequenos lanches. Depois, inclua nessa conta da semana o tempo que você gasta para ir ao supermercado comprar alimentos e também, o tempo que você gasta pensando nos alimentos que precisa comprar ou na refeição que irá preparar. Se você for responsável pelo almoço de outra pessoa (uma família, por exemplo) isso exige verdadeira logística no dia a dia. Achei interessante ver quanto tempo iria ganhar sem ter que ter todas essas preocupações.
  • autoconhecimento
Confesso que situações de limite físico me atraem um pouquinho e sempre têm um efeito positivo e fortalecedor sobre mim. Lembro-me que penei muito nos últimos dias/quilômetros da parte que fiz do caminho de Santiago, quando andava cerca de 25 quilômetros por dia. Mas também me recordo bem de como a experiência me ensinou muitas coisas sobre mim mesma e de como depois de finalmente completar o percurso, qualquer distância a pé se tornou extremamente relativa para mim. Acredito que o jejum vá me trazer algo parecido e sei que depois de alguns dias você passa a liberar algumas substâncias que dão a sensação de bem estar como neurotransmissores, como endorfinas, e hormônios, como noradrenalina e adrenalina.

Sendo assim, me entusiasmei para tentar um jejum de uma semana composto de líquidos como explicarei no decurso da experiência. A Sté, minha fiel companheira, que nos visitava em Berlin na semana passada, se animou com a ideia. Como seria a primeira vez para nós duas pensamos em fazer um diário para dividirmos nossas experiências e darmos força uma a outra durante o período do jejum. E foi assim que nasceu a ideia desse blog. O jejum começará daqui dois dias!

2 comments:

  1. Oi amiga!
    Isso é total novidade para mim!! E completamente "sua cara"!!! Estou super curiosa pra acompanhar esse sua nova aventura!!
    beijos e boa sorte!!!

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  2. Oie... mas que grande novidade é essa? confesso que ainda estou tentando "digerir esse jejum", mas concordo em ser uma boa experiencia :)
    E como sei que ambas gostam de desafio, FORÇA garotas!
    Vou tentar acompanhar de longe isso.
    Olha que costumava fazer esse tipo de jejum, mas apenas 1 dia por mes, na entrada da lua minguante. Era a chamada "dieta da lua" e me sentia muito bem. "Dar um tempo" na alimentação, sem descuidar da hidratação é uma excelente desintoxicação. E, pelo que escreveram, tem ainda uns bons efeitos positivos.
    Vamos lá ver isso!
    Beijos, com saudades de ambas malucas :)
    Margo

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